opinião

OPINIÃO: Um olhar de cidadão adotivo nos 160 anos de Santa Maria

Aportei a Santa Maria no longínquo ano de 1961 vindo de Quaraí no "trem da fronteira", com 15 anos, tendo de deixar família e terra natal para continuar os estudos. A Santa Maria que me recebeu também se encontrava em momento de transformações: o asfalto da BR-158, descendo a serra; o arranha-céu Edifício Taperinha, pioneiro e marcante na paisagem urbana; em 18 de novembro, lei sancionada criara a Universidade Federal.

Santa Maria fervilhava e nela sofri as dores da adolescência atingida pela brusca mudança, amadureci, vivi paixões, compreendi o mundo, escolhi ideias, transformei-me cidadão, construí raízes comunitárias, concluí formação acadêmica, assumi compromissos de representação popular.

Nesta semana, o município de Santa Maria completou 160 anos de sua instalação, em 17 de maio de 1858, após a elevação de sua sede de freguesia à vila. A data foi se consolidando como o aniversário a ser celebrado, embora exista toda uma história anterior de índios minuanos e tapes, possível posto das Missões Jesuíticas, sesmarias, o acampamento da Comissão Demarcadora dos Limites entre Portugal e Espanha (1787) e assim por diante. Sem os humanos, vida animal, rica e variada, desde o Triássico, mais de 200 milhões de anos, a qual é hoje desvendada pelos estudos dos sítios paleontológicos.

Desde o início, pela situação geográfica, demonstrou vocação para a logística de transportes e o comércio. Foi centro ferroviário onde se localizavam as "oficinas" de manutenção e a sede de organismos como a então poderosa Cooperativa dos Ferroviários. Por isso, também, teve forte movimento sindical, correntes ideológicas variadas e, desde os primórdios do século XX, movimentos grevistas de impacto.

Pela mesma localização estratégica foi recebendo quartéis, regimentos e organizações militares. Quando cheguei, Santa Maria já possuía um comando de Divisão e outro de Brigada, ou seja, dois generais e suas estruturas. Mais tarde, seria implantada a Base Aérea, com a forte presença também da Aeronáutica.

Com o tempo, afirmou-se como significativo polo educacional. A citada criação da UFSM foi um divisor de águas, hoje são diversas as instituições de Ensino Superior além da rica malha de escolas de Ensino Fundamental e segundo grau. Já nas décadas de 60 e 70, a cidade pulsava juventude e se tornava terra adotiva de milhares de estudantes, vindos de todo o RS e alhures, fazendo-a irrequieta e intensa.

Na economia, Santa Maria perseguiu industrialização nunca bem alcançada. Também viu fracassarem empreendimentos de grande porte em determinados ciclos, gerando abalos no espírito comunitário.

Mas é bem recente a maior tragédia: o incêndio na boate Kiss, pelas vidas perdidas e por ter atingido o seu principal tesouro, a juventude.

Integrei, em décadas, grupos que pensaram o desenvolvimento de Santa Maria: obtivemos ganhos e perdas. Hoje, torço pelos agentes e organizações da comunidade que se debruçam sobre novas possibilidades e horizontes.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: Inverter a direção do tempo Anterior

OPINIÃO: Inverter a direção do tempo

OPINIÃO: Pouco a comemorar Próximo

OPINIÃO: Pouco a comemorar

Colunistas do Impresso